quinta-feira, 31 de julho de 2008

Esquizofrenia

Leiam na íntegra a reportagem publicada na folha hoje:

Dois grupos de cientistas publicam hoje estudos em que apontam regiões do DNA humano relacionadas ao risco para esquizofrenia. A descoberta saiu do maior levantamento genético já feito para investigar a doença. As duas pesquisas juntas envolveram mais de 8.000 pacientes esquizofrênicos comparados a 44 mil pessoas sem o problema psiquiátrico.Um dos trabalhos, liderado por Pamela Sklar, do Hospital Geral de Massachusetts (EUA), confirmou uma tendência observada em estudos menores, indicando que as mudanças que causam propensão à esquizofrenia tendem a não se agrupar muito em genes específicos, e sim se espalhar em partes grandes do genoma, com genes "repetidos" ou "apagados".O trabalho de Sklar sai hoje na revista "Nature" ao lado de outro estudo, liderado pela empresa islandesa Decode Genetics. Juntos, os estudos descrevem quatro partes do DNA que, quando "deletados", aumentam o risco para esquizofrenia, uma doença parcialmente genética. Uma delas já era conhecida, mas não confirmada.Essas mutações são raras, dizem os pesquisadores, e respondem por uma parte pequena dos casos de esquizofrenia, mas os portadores dessas alterações acabam tendo o risco de contrair a doença bastante elevado. Uma delas aumenta aproximadamente de 1% para 12% o risco de uma pessoa se tornar esquizofrênica. Essas alterações surgem espontaneamente, dizem os pesquisadores, mas em geral não são transmitidas por muitas gerações."Essas descobertas são importantes porque elas jogam luz sobre as causas [da doença] e fornecem o primeiro componente de um teste molecular para ajudar o diagnóstico e a intervenção clínica", afirma Kari Stefansson, da Decode.Hoje a esquizofrenia é diagnosticada por sintomas que incluem alucinações, pensamento confuso e emoções distorcidas. Segundo Camila Guindalini, geneticista da Unifesp que estuda males psiquiátricos, os novos estudos apontam "alvos de interesse" para uma possível descoberta de novos "genes candidatos" a serem estudados. Conhecer com mais precisão os genes implicados na doença pode ajudar na pesquisa de medicamentos mais precisos, afirma a cientista. (RAFAEL GARCIA)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Resiliência

A resiliência é um termo oriundo da Física. Trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Esse termo agora usado pelas ciências humanas representa a capacidade do ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do individuo face às adversidades. Esta resistência não é apenas física, trata-se de uma visão positiva para reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente o seu retorno à vida. Assim, um dos fatores da resiliência é a capacidade do individuo de garantir sua integridade, mesmo nos momentos mais críticos.

Quero aqui mostrar um exemplo prático, do João Carlos Martins, posso dizer que este magnífico pianista e intérprete de Bach é a pessoa mais resiliente que já ouvi falar. Martins que tocava piano desde 8 anos de idade, primeiramente teve um nervo rompido e perdeu o movimento da mão direita em um acidente em um jogo de futebol em Nova Iorque. Após vários tratamentos recuperou parte dos movimentos das mãos, mas desenvolveu LER. Isto não o fez parar, continuou a tocar apenas com a mão esquerda. Contudo, ao realizar um concerto em Sofia na Bulgária, em 2002, sofreu um ataque em um assalto, e um golpe na cabeça lhe fez perder parte do movimento de mãos novamente.

Assim, aos 64 anos Martins começa a estudar regência em uma Escola de Música. Incapaz de segurar a batuta ou virar as páginas das partituras dos concertos, João Carlos faz um trabalho minucioso de memorizar nota por nota, demonstrando ainda mais seu perfeccionismo e dedicação ao mundo da música. E assim continua até hoje, agora como maestro.

Assistam o vídeo que ele toca piano com alguns dedos e emociona o Jô Soares.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Crise dos 30


Semana passada assisti ao filme Um beijo a mais. O que eu achei que seria mais uma comédia romântica clichê, me surpreendeu mostrando como é a crise dos 30 anos.
Tenho visto no consultório a dificuldade de tornar-se adulto e todas as implicações disto. Pasmem, hoje em dia se vira adulto aos 30 e quando vira!
Este filme mostra as implicações desta etapa na vida de vários personagens, obviamente a questão do relacionamento aparece juntamente com a famosa pergunta "Será que eu quero ficar com esta pessoa o resto da vida?" a qual assombra o personagem principal. A mudança que um filho traz para a vida de um casal também e o quanto é necessário um preparo para isso.
Ainda no mesmo filme, aparece o efeito de uma crise na família como um todo. Portanto, temos uma crise de uma mulher de meia idade também.
Ah, e o filme ainda possui um terapeuta bem caricato, mas interessante.
Vou parar de contar, assistam e depois me digam!

domingo, 27 de julho de 2008

Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente

EM GERAL , na literatura, no cinema e nas nossa fantasias, as histórias de amor acabam quando os amantes se juntam (é o modelo Cinderela) ou, então, quando a união esbarra num obstáculo intransponível (é o modelo Romeu e Julieta).

No modelo Cinderela, o narrador nos deixa sonhando com um "viveram felizes para sempre", que seria a "óbvia" consequência da paixão.

No modelo Romeu e Julieta, a felicidade que os amantes teriam conhecido, se tivessem podido se juntar, é uma hipótese indiscutível. O destino adverso que separou os amantes (ou os juntou na morte) perderia seu valor trágico se perguntássemos: será que Romeu e Julieta continuariam se amando com afinco se, um dia, conseguissem deitar-se juntos sem que Romeu tivesse que escalar a casa de Julieta até o famoso balcão? Ou se, em vez de enfrentar a oposição letal de suas ascendências, eles passassem os domingos em espantosos churrascos de família?

Talvez as histórias de amor que acabam mal nos fascinem porque, nelas, a dificuldade do amor se apresenta disfarçada. A luta trágica contra o mundo que se opõe à felicidade dos amantes pode ser uma metáfora gloriosa da dificuldade, tragicômica e inglória, da vida conjugal.

O casal que dura no tempo, em regra, não é tema para uma história de amor, mas para farsa ou vaudeville - às vezes, para conto de terror, à la "Dormindo com o Inimigo".

Durante décadas, Calvin Trillin escreveu uma narrativa de sua vida de casal, na revista "New Yorker" e em alguns livros (por exemplo, "Travels with Alice", viajando com Alice, de 1989, e "Alice, Let´s Eat", Alice, vamos para a mesa, de 1978).

Nesses escritos, que são só uma parte de sua produção, Trillin compunha com sua mulher, Alice, uma dobradinha humorística, em que Calvin era o avoado, o feio e o desajeitado, e Alice encarnava, ao mesmo tempo, a beleza, a graça e a sabedoria concreta de vida.

À primeira vista, isso confirma a regra: a vida de casal é um tema cômico. Mas as crônicas de Trillin eram delicadas e tocantes: engraçadas, mas nunca grotescas. Trillin não zombava da dificuldade da vida de casal: ele nos divertia celebrando a alegria do casamento. Qual era seu segredo?
Para continuar a leitura

Por Contardo Calligaris
CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e colunista da Folha de São Paulo. Italiano, hoje vive e clinica entre Nova York e São Paulo. Leitura obrigatória semanalmente na Folha de São Paulo.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Perls em ação


Para quem não conhece este é Fritz Perls, criador da Gestalt Terapia. Neste vídeo ele aparece explicando como é o sonho para a Gestalt Terapia e faz um atendimento de um sonho. Desculpem mas não tem legenda.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Felicidade

No último sábado fui ao show do Luiz Tatit no SESC, gostei muito letra da música felicidade, mostra de uma forma bem humorada o quanto é estranho ser feliz em tempos de surto de depressão, confiram uma parte:


Não sei porque eu tô tão feliz

Não há motivo algum pra ter tanta felicidade

Não sei o que que foi que eu fiz

Se eu fui perdendo o senso de realidade

Um sentimento indefinido

Foi me tomando ao cair da tarde

Infelizmente era felicidade

Claro que é muito gostoso

Claro que eu não acredito

Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito

Não sei porque eu tô tão feliz

Preciso refletir um pouco e sair do barato

Não posso continuar assim feliz

Como se fosse um sentimento inato

Sem ter o menor motivo

Sem uma razão de fato

Ser feliz assim é meio chato

E as coisas nem vão muito bem

Perdi o dinheiro que eu tinha guardado

E pra completar depois disso

Eu fui despedido e estou desempregado

Amor que sempre foi meu forte

Não tenho tido muita sorte

Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida

E feliz da vida!!!


Para conhecer mais sobre Luiz Tatit confiram o site
http://www.luiztatit.com.br/

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Gestalt Terapia

Todas as pessoas geralmente me perguntam o que é afinal Gestalt Terapia.

O homem para a Gestalt Terapia é um ser-no-mundo, o que significa que ele age ativamente sobre o mundo e o transforma e recebe dele também influências, em uma relação recíproca. O homem é um organismo, um todo unificado que é diferente das partes que o constituem, assim como a soma destas. O que afeta uma parte afeta o todo.

Um dos conceitos mais importantes para esta teoria é o de contato, contato é o que ocorre entre o organismo e tudo que é diferente dele. É o meio para mudar a si mesmo e a experiência que se tem no mundo. É quando se pode escolher entre o que serve e o que não serve, assimilando ou rejeitando e isto inevitavelmente gera mudança e crescimento.
O self, portanto, é a função de contatar o aqui-e-agora, por isso diz-se que ele é temporal, pois ele só existe no presente. É no aqui-e-agora que o contato acontece e o self sempre vai existir na fronteria de contato.
O self é o processo de figura/fundo em situações de contato, servindo para o ajustamento que se faz ao encontrar obstáculos no meio. O self não é algo que faz parte do organismo.

A prática clínica da gestalt terapia apóia-se na tríade: a relação figura/fundo, a awareness e o método fenomenológico.
O processo de contatar ocorre a partir de um ir e vir de figuras e fundos, para que seja possível a satisfação de uma determinada necessidade. Porém quando a formação e destruição de gestalten estão interrompidas, as necessidades não são reconhecidas formando gestalten incompletas, interferindo na formação de novas gestalten.
Para haver este processo de contatar é necessário que haja a auto-regulação, que é ajustar a necessidade do indivíduo com as possibilidades do meio. A auto-regulação depende de dois processos interligados: a awareness sensorial (a pessoa saber qual é a sua necessidade) e a agressão (destruir ou desestruturar o que vem do meio, e só ficar com o que serve).
Awareness significa experienciar por inteiro, como um todo, o processo de contatar. Esta só será eficaz quando fundamentada e energizada pela necessidade atual do organismo, conhecendo a realidade da situação e como a pessoa está na situação, sempre no aqui-e-agora. A awareness está sempre em transformação, pois o agora muda em cada momento.
O método usado pela gestalt terapia é a fenomenologia e consiste na busca do entendimento através do que é óbvio, do que aparece e não na interpretação do que está por traz daquilo. Experienciando a situação, a awareness sensorial pode descobrir esse óbvio e assim chegar a awareness deliberada, que é saber qual a importância daquela necessidade para a pessoa.
Contudo as pessoas perdem o óbvio. Na Gestalt Terapia o cliente aprende a ficar aware daquilo que está fazendo e como está fazendo, sem dar tanta importância em como ele deveria ser ou porque ele é assim. O conteúdo é fundo e a forma é a figura para o terapeuta.
Através da awareness do que a pessoa está fazendo e de como está fazendo, conhecendo quem é, pode ocorrer à mudança. Esta é a Teoria Paradoxal de Mudança, ou seja, a mudança ocorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta converter-se no que não é. O gestalt terapeuta tem então um papel de transformador, encorajando e muitas vezes insistindo que o paciente seja onde e o que ele é. É quando o cliente abandona o que gostaria de se tornar e tenta ser o que é que ocorre a mudança.

O gestalt terapeuta evita a hierarquização do papel de terapeuta, pois acredita que a dicotomia dominador/dominado (topdog/underdog) já existe dentro da pessoa, ou seja, existe uma parte querendo que a outra mude e outra querendo ser mudada. É através do trabalho com essas polaridades que pode haver a integração da energia que está dividida, sendo aquilo que é plenamente, a pessoa pode se tornar outra pessoa.
Este trabalho fenomenológico é feito através de uma relação Eu-Tu que pressupõe que o contato (encontro) acontece quando dois diferentes estão em relação sem nenhum objetivo, reconhecendo as semelhanças e aceitando as diferenças. Cada um é responsável por si, por influenciar e se permitir ser influenciado pelo outro, conectando e separando-se.

O gestalt terapeuta respeita a auto-regulação do cliente, sem querer substituí-la pelo objetivo do terapeuta ou da terapia. Através das técnicas fenomenológicas, podem ser sugeridas maneiras que o cliente poderia experienciar o novo, tendo sempre como objetivo que o cliente tenha awareness.

A intervenção terapêutica da Gestalt Terapia está apoiada no ver e sentir do terapeuta, isso ajuda o cliente a ficar aware. O cliente pode ter awareness do próprio processo de awareness através de experimentos, tarefas propostas com esse objetivo que surgem do diálogo Eu-Tu, do aqui-e agora. É um trabalho verbal com experimentação.
Quando o cliente fica awareness do seu comportamento consegue usar sua força para auto-sustentar-se ao invés de se interromper. O terapeuta conduz seu trabalho para a integração das partes desconectadas, levando o cliente a explorar, aprendendo por si mesmo como escolher, responsabilizando-se por si e por suas escolhas.